Maitê Proença

#MulherDeFibra

Na Academia da Respiração, nós acreditamos que a mudança do mundo passa necessariamente pelo empoderamento feminino. Então, admiramos muito a sua dedicação em promover o reconhecimento e a valorização das mulheres que são inspiração para as atuais e futuras gerações. Aqui está uma singela contribuição nossa para isso, em gratidão pela grande #MulherDeFibra que você é!

Ella Adelia Fletcher

1846-1934

Praticamente não existem evidências sobre essa mulher fascinante que viveu entre o final do século 19 e o início do século 20, a não ser pelas obras preciosíssimas que ela deixou. 

Começando pelo livro chamado The Philosophy of Rest, ou “A Filosofia do Descanso”, na tradução livre para o português. Publicado em meio ao já considerado acelerado mundo daquela virada de século 19 para o século 20, neste livro Ella defende a importância de simplesmente estar em meio à natureza e não fazer nada, ressaltando como isso auxilia a ser mais produtiva, como resultado da pausa. Algo muito próximo da ideia de ócio criativo, do maravilhoso Domenico De Masi, e do recente conceito de savoring da Psicologia Positiva.

Outro livro incrível que Ella escreveu foi o The Beautiful Woman, ou “A Mulher Bonita”, um verdadeiro guia da beleza da mulher, com mais de 500 páginas com conselhos sobre cosméticos, perfumes, moda, penteados, medicina, controle do peso, exercícios e rituais de banho – lembra alguém que você conhece?

Escrito numa época em que o conceito de beleza era ser magra, pálida e usar espartilhos, ela enaltece e conceitua a beleza feminina de maneira contracultural, oposta à ideia de beleza sedentária e totalmente materialista que insurgia nos Estados Unidos. Fletcher sustentava a ideia de que a beleza é algo que surge de dentro para fora, no cultivo da saúde através de hábitos saudáveis.

Neste livro ensina algumas técnicas de respiração que, como menciona, aprendeu com uma outra mulher incrível chamada Genevieve Stebbins, que vou apresentar aqui pra você. E, muito possivelmente, Genevieve foi uma grande inspiração que Ella teve para escrever em 1908 o livro The Law of the Rhythmic Breath, ou “A Lei da Respiração Rítmica”. Publicado muitas décadas antes da popularização da Yoga no Ocidente, Fletcher já apresentava ali conceitos centrais da Yoga, com ênfase na respiração.

Ella descreve como é possível entrar em harmonia e se sintonizar com os ritmos da natureza e do cosmos através do ritmo da respiração, com ideias espirituais bem profundas, ressaltando o quanto a saúde, o vigor e a longevidade estão dependem totalmente da maneira como respiramos.

Além de seus livros, Ella Adelia também foi colunista dos periódicos The Cosmopolitan e do The Nautilus, fundado pela escritora e editora Elizabeth Jones Towne e que foi a revista pioneira do Movimento do Novo Pensamento, precursor da consciência de que nossos pensamentos criam a nossa realidade e da metacognição. Foi no The Nautilus, inclusive, que foi publicada a primeira versão do The Law of the Rhythmic Breath.

Ella Adelia Fletcher: uma grande pioneira da respiração!

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Genevieve Stebbins

7 de março de 1857 - 21 de setembro de 1934

Se você fosse uma mulher em 1890, morando em Nova Iorque, você certamente conheceria Genevieve Stebbins!

Nascida no dia 7 de março de 1857, em São Francisco, na Califórnia, Genevieve sempre gostou de dançar. Ainda adolescente, foi para Nova Iorque estudar teatro. Lá conheceu o Sistema Delsarte, criado pelo francês François Delsarte. Tendo a respiração como fundamento primordial, o sistema combina técnicas respiratórias com movimentos expressivos, relaxamento e energização.

Delsarte criou o seu sistema porque estava incomodado com a desconexão que havia entre o que os atores falavam e o estado emocional deles, ressaltando a importância de sentirem aquilo que queriam expressar. Por isso, o Sistema Delsarte é considerado um processo profundo de estudo sobre as emoções e um caminho de integração entre corpo, mente e espírito.

Em meio aos seus estudos, Genevieve se apresentava no Madison Square, em Nova Iorque, fazendo shows nos quais se sustentava em poses como estátuas gregas e se movia entre elas espiralando com movimentos tão graciosos como os de uma bailarina. O grande segredo da sua habilidade técnica que impressionava quem assistia estava escondido debaixo do seu nariz, conectando as pausas e os movimentos com o ritmo da sua respiração.

Mas isso não era suficiente para ela, ainda mais diante daquele momento histórico, em que o mundo seguia a todo vapor num rumo bem diferente, de total fragmentação do ser, num processo fruto do ilusório conflito entre a ciência e a religião, que estava bem acirrado, e de um capitalismo acelerado. Inquieta com tudo isso e também indignada com o advento da busca meramente estética no meio das práticas corporais, de ode aos músculos e à fisicultura, Genevieve se tornou a grande difusora do Sistema Delsarte nos Estados Unidos e suas aulas se transformaram em uma atração entre as mulheres da época.

Só que Genevieve também era muito criativa para se limitar apenas a um método. Foi então que, combinando o Sistema Delsarte com princípios da ginástica sueca, ela criou o seu próprio sistema, que denominou de Cultura Psicofísica. Integrando psicologia, ciência das emoções, artes e espiritualidade, seu foco era compreender como através da respiração integrada ao movimento e à visualização criativa, era possível alinhar o corpo, a mente e o espírito.

Ela apresentou suas ideias no livro “Respiração Dinâmica e Ginástica Harmônica: um sistema completo de cultura psíquica, estética e física”, em tradução literal, com saberes preciosos sobre a respiração. Aqui um trecho dessa verdadeira relíquia…

“Com uma respiração rítmica e sistemática podemos estimular os poderes mentais à sua capacidade mais elevada, remover artificialmente grande parte da discórdia na vida que resulta de estados mentais desarmoniosos e produzir cientificamente, de maneira sistemática, os resultados mais benéficos.”

Uau! Que conhecimento precioso, não é? O que ela estava falando há mais de 130 anos atrás é algo que muito de nós hoje em dia esquecemos: que através da respiração podemos superar “estados mentais desarmoniosos” como medo, culpa, ansiedade e depressão e despertar o que existe de melhor em nós!

Entre as várias técnicas que descreve no livro, ela enaltece uma que devido aos seus inúmeros benefícios está sendo muito estudada pela ciência atualmente e, não por acaso, é a prática central na Academia da Respiração.

Considerando que seu livro foi publicado no ano de 1892, ela muito possivelmente foi a primeira pessoa no ocidente a descrever o poder da respiração de maneira tão profunda, antes mesmo do Swami Vivekananda, que só chegou nos Estados Unidos em 1893 e publicou seu livro Raja Yoga em 1896. Como ele cita o Delsarte e faz uso de uma série de termos que a Genevieve havia trazido no seu livro escrito 4 anos antes, podemos questionar: por que Genevieve teve o seu nome tão invisibilizado até hoje?

O que Genevieve empreendeu foi na realidade um movimento protofeminista, já que a grande maioria de suas alunas eram mulheres e ela as ensinava como acessar a sua plena saúde, força, vitalidade e beleza através da consciência e do empoderamento da sua respiração, do seu corpo e da sua mente, em uma época em que muitos desses conhecimentos eram restringidos aos homens.

Tudo isso torna fundamental o reconhecimento e valorização dessa majestosa pioneira da respiração!

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Alexandra David-Néel

24 de outubro de 1868 - 8 de setembro de 1969

Respira fundo que nós vamos subir alto pra conhecer mais uma mulher pra lá de inspiradora! Sim, porque a #MulherDeFibra de hoje foi a 5.000 metros de altura para descobrir, sentir e viver o poder da respiração!

Nascida em 24 de outubro de 1868, a belga-francesa Louise Eugénie, que posteriormente adotou o pseudônimo de Alexandra David-Néel, sempre teve um espírito muito livre e aventureiro. Questionadora, feminista e anarquista, aos 15 anos de idade começou a fazer práticas de jejum e dietas ascetas. Aos 18 anos, já havia viajado sozinha pela Inglaterra, Espanha e Suíça.

Curiosamente, Alexandra foi cantora de ópera durante quase uma década. Passou por conservatórios e óperas em Bruxelas, Vietnã, Atenas e Tunísia. Mas desde cedo o seu maior interesse estava no autoconhecimento, nas filosofias e tradições religiosas. E foi um chamado vindo do oriente que realmente a encantou…

Em 1911, ela viajou para a Índia com a intenção de se aprofundar em seus estudos sobre o budismo, ao qual se dedicaria durante toda a vida. Viajou por muitos mosteiros, aprendeu sânscrito e tibetano, fez amizade com o príncipe de Siquim e se encontrou com o 13º Dalai Lama. Cerca de um mês depois desse encontro, ela conheceu Lachen Gomchen Rinpoche, que se tornou o seu professor espiritual. E foi ele quem a introduziu à uma respiração potente chamada Tummo.

David-Néel se tornou uma praticante assídua de Tummo. Afinal de contas, além de a manter aquecida, também melhorava o seu humor e a fazia se sentir mais bem disposta e saudável, enquanto percorria lugares remotos acima de 5.000 metros, caminhando durante 19 horas por dia, em meio a um frio congelante, muitas vezes passando dias sem água e sem comida.

Anos depois, ela escreveu sobre Tummo em seu livro My Journey to Lhasa, publicado em 1927. Ao relatar um momento em que praticou para aquecer os instrumentos para acender uma fogueira, Alexandra explica que Tummo é “apenas uma maneira inventada pelos eremitas tibetanos de viver sem pôr em risco sua saúde no alto das colinas. Não tem nada a ver com religião”. Apesar da explicação tão simples, o seu relato causou um rebuliço e muita estranheza na comunidade científica.

Naquela época, diversos médicos e pesquisadores duvidaram dela. Poucos aceitavam a possibilidade de conseguirmos aquecer o nosso corpo apenas com uma técnica de respiração. Muito menos melhorar a função imunológica e até curar doenças. Mas, a partir dos seus relatos, o interesse cresceu ao ponto de diversos antropólogos e pesquisadores começarem a ir para os Himalaias para saberem mais.

Foi só a partir disso que, muito tempo depois, o holandês Wim Hof, também conhecido como o “Homem de Gelo”, conheceu o poder da respiração e criou o hoje bem famoso Método Wim Hof.

Alexandra David-Néel nos inspira pela sua ousadia, coragem e espírito de total pioneirismo e de pura liberdade, em busca de viver experiências incríveis, se desbravar e aproveitar ao máximo a vida! Aliás, vida longa e saudável dessa pioneira da respiração: ela viveu até quase os 101 anos de idade!

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Katharina Schroth

22 de fevereiro de 1894 - 19 de fevereiro de 1985

Agora vamos reconhecer e celebrar uma mulher que, além de uma incrível história de superação, deixou um imenso legado, demonstrando de uma maneira inquestionável o poder da respiração.

Nascida no dia 22 de fevereiro de 1894, em Dresden, na Alemanha, Katharina Schroth foi diagnosticada com escoliose. Inconformada com a maneira como a escoliose era abordada na época, com tratamentos terríveis como uma cinta de aço que ela chegou a usar até não aguentar mais, aos 16 anos ela decidiu investigar por conta própria alguma outra alternativa. Foi quando ela tomou consciência do poder da respiração…

Ao se observar no espelho, a jovem, que só queria ter mais qualidade de vida, começou a desenvolver um estudo sobre o seu próprio corpo. Até que um dia, ao notar que os balões murcham ou se expandem de acordo com a entrada e saída de ar, ela se inspirou para fazer algo semelhante através da respiração.

A teoria era simples: ao expandir os pulmões, a estrutura em volta teria que se expandir também, certo? Então, ela foi sincronizando a respiração com movimentos, de modo a puxar para fora as partes do peito que estavam para dentro e retrair as partes mais pronunciadas.

E foi desse modo, através da respiração e com muita dedicação, que Schroth conseguiu o que diziam impossível: deixar a sua coluna reta! Nascia assim a respiração ortopédica.

O que Schroth fez foi escancarar o poder da respiração, curando o que até então era considerado “incurável”! E é claro que um feito como esse não poderia ficar só com ela. Katharina começou a atender outras pessoas na mesma situação. O sucesso foi tanto, que na década de 40 o seu modesto instituto no interior da Alemanha chegava a atender cerca de 150 pessoas de cada vez.

Os programas de tratamento duravam seis semanas e até os casos mais complicados eram resolvidos. Costas encurvadas se endireitavam, quem não conseguia sair da cama voltou a andar e muitos até ganhavam centímetros de altura.

Tudo isso era tão inconcebível para o saber científico da época, que a comunidade médica, incomodada, tentou descredibilizar o trabalho incrível dela, alegando que ela não era médica ou treinadora profissional.

Mas, apesar de todas as ofensas, Katharina seguiu com a sua missão, devolvendo a respiração e a qualidade de vida para milhares de pessoas. Foram décadas de atuação, levando o seu trabalho para hospitais e clínicas na Alemanha e ao redor do mundo. Finalmente, quando ela já estava idosa, a comunidade médica admitiu que errou e o governo alemão a concedeu a Cruz de Mérito Federal, reconhecendo suas incontestes contribuições à medicina.

Superando todas as expectativas, Katharina viveu até os quase 91 anos. Sua filha, Christa Lehnert-Schroth, se tornou fisioterapeuta, passou a atuar ao lado dela e seguiu aperfeiçoando o método, atualmente reconhecido como o tratamento natural mais eficaz para a escoliose, auxiliando milhares de pessoas ao redor do mundo.

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Essas são as pioneiras da respiração mais incríveis que conhecemos, mas existem outras mulheres fascinantes hoje em dia que estão fazendo um belíssimo trabalho pelo mundo disseminando o poder da respiração.
Se você quiser, podemos compartilhar com você as histórias delas também. 

Vamos seguir inspirando?

Para a gente, vai ser uma imensa honra e alegria contar com essa grande Mulher de Fibra que você é ao nosso lado, reconectando o Brasil com o poder da respiração!

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